terça-feira, 17 de julho de 2012

O Hobbit e a polêmica das filmagens em 48 quadros por segundo


 Pense em um filme qualquer. Tenha em mente que toda a ação, todo o movimento que aparece perante seus olhos sejam uma sucessão de fotografias que, exibidas uma a uma com ínfimas alterações, são responsáveis pela ação impressa perante seus olhos. Para cada segundo de ação  de qualquer personagem que aparece na tela (como o simples ato de sorrir ou levar um garfo à boca), 24 quadros tenham que ser completados para que o movimento seja realizado. E, embora alguns filmes, ainda hoje, principalmente os realizados em stop-motion (a exemplo daqueles filmes onde os personagens são como bonecos de massinha) se utilizem de outras técnicas, a Academia de Artes Cinematográficas, ainda nos anos de 1929, convencionou o uso dos 24 fps (frames per second, ou quadros por segundos, em português) para a exibição do que conhecemos dos filmes na atualidade. 

Peter Jackson, diretor de O Senhor dos Anéis, resolveu inovar isso, filmando O Hobbit em uma câmera que aplica nada menos que 48 fps em suas imagens. O resultado, pelo que as pessoas que assistiram a 10 minutos de exibição nos Estados Unidos vêm comentando, é algo completamente diferente do que conhecemos. E, nesse ponto, devemos tirar o chapéu para o diretor que, há mais de10 anos atrás, resolveu encarar a direção de um material que estava previsto ser dirigido por outra pessoa e na qual ele seria apenas um produtor. Um material que há décadas atrás deixou de ser filmado principalmente pelo fato de todos acreditarem que não havia tecnologia suficiente para trazer para a realidade toda a complexidade do mundo criado por Tolkien.

O cineasta encarou também o relativamente baixo orçamento disponibilizado para a realização dos três filmes, inovando também em filmar tudo em uma só tacada e, posteriormente, editando o longo material gravado em três partes, o que lhe poupou tempo e trabalho.

Se nossa vida fosse um filme, tudo o que enxergamos seria em 60 quadros por segundo, o máximo da capacidade ocular humana. Filmar em 48 fps aproxima muito a experiência do cinema com a vivida no mundo real. É quase como ver as imagens passadas na tela através de uma janela para o mundo exterior. A coragem de Jackson, desta vez, reside no fato de a tal câmera poder acabar denotando imperfeições em um filme que tinha tudo para ser visualmente perfeito.

Quem assistiu partes do filme alega que as imagens são mais realistas, mais claras e limpas. Basta assistirmos alguns minutos do documentário Planet Earth, da BBC, que poderemos ter uma idéia de como seria bonito aquilo tudo filmado em 48 fps. O documentário, embora não se utilize do 48 fps, utiliza-se, em algumas sequências, das câmeras de altíssima velocidade, onde detalhes mínimos conseguem ser filmados mesmo se o movimento é tão veloz a ponto de passar despercebido por nossos olhos. Em Planet Earth, as imagens são belíssimas e de tirar o fôlego. Podemos ver o movimento das penas das asas de um pássaro com muito mais definição, ou uma gota caindo na água e todos os movimentos de onda que ela provoca, em uma experiência marcante.

Acontece que, ao contrário do documentário Planet Earth, O Hobbit é uma fantasia cheia de efeitos especiais, mundos e materiais que não existem, filmado com muitos takes em fundo verde. Ver tanto realismo exibido pela câmera especial aplicado a coisas não reais poderia danificar a experiência de quem está no cinema para se embrenhar em um universo surreal.

Quem assistiu os 10 minutos de exibição escolhidos por Peter Jackson achou estranha a experiência, mas segundo o próprio Jackson, foi um erro a apresentação de apenas 10 minutos de filmagem, já que é necessário mais tempo para que os olhos se habituem ao novo formato. Segundo ele, com o decorrer do filme, a experiência dos 48 fps se tornará algo fantástico.

Em minha opinião, o cinema é um produto de sua época e toda tecnologia é bem vinda quando servir à narrativa, não o contrário. Confio plenamente no tato cinematográfico de de Peter Jackson e acho que ele não nos decepcionará. Na verdade, também acredito que pouquíssimos cinemas no Brasil estarão preparados para O Hobbit em 48 fps, o que nos obrigará a assistí-lo no formato convertido para os habituais 24 fps. 

Entretanto, para o futuro, se a mudança for para melhor, O Hobbit carregará para si o título de ser o primeiro dos filmes a ter apresentado tal formato... e quem assistí-lo assim também terá feito parte , de uma forma ou de outra, da História da evolução do cinema.
# Compartilhar: Facebook Twitter Google+ Linkedin Technorati Digg

Postar um comentário

 
Copyright © 2013 Cinefilado