Não existe algo pior no meio cinematográfico do que ser compelido a emoções de forma desonesta e artificial. É como tomar um susto apenas pelo fato de algo berrar nas caixas de som em uma cena, em tese, assustadora de um filme de terror... ou, como no caso de Histórias Cruzadas, se comover com o sofrimento dos personagens que já provaram mostraram mais do que deveriam que são pessoas calejadas pela vida.
Na verdade, Histórias Cruzadas parece ser daqueles filmes que passam a maior parte de sua exibição se esforçando nisso: fazer com que os personagens negros sejam os sofredores e que derramemos litros de lágrimas por seus dramas pessoais. E apenas isso. Não há a preocupação em se criar uma empatia com os personagens que desfilam na tela. Apenas o drama pelo drama.
E que drama! Temos a velhinha que trabalha há 30 anos na mesma casa e é escorraçada e expulsa apenas por ter recebido a filha que não via há muito tempo (own!); temos a insensibilidade gritante dos patrões brancos quando uma mãe negra revela a eles suas necessidades financeiras em fazer com que seus filhos gêmeos permaneçam estudando – ou, caso contrário, ter que escolher dentre um deles para tirar da escola (own!); temos uma criança branca que não recebe atenção da mãe e acaba pedindo para a que a babá negra seja sua mãe (own!), assim como diversas outras passagens. O filme chega ao absurdo de quase apelar para a trilha sonora e para a câmera lenta ao exibir um personagem chorando e gritando “não vá!” durante uma cena de despedida.
Como atriz, Viola Davis mata a pau e foi merecida a indicação ao oscar de melhor atriz por este trabalho, entretanto, acho um exagero sequer este filme ter estado cotado pela Academia como um dos melhores do ano.
Não quero subjugar o drama pessoal das pessoas que viveram naquela época. Pelo contrário, acredito que o drama vivido pelos negros nestes períodos de segregação foi infinitamente pior do que o que foi mostrados no filme, ou em qualquer outro, entretanto, a falta de sutileza com que foi exibido só denota um excesso de artificialidade e falta de tato do diretor/roteirista.
Neném, você está equivocado. The help não é sobre o sofrimento das pessoas negras daquela época. É só um exemplo da maneira como elas eram tratadas. eu não acredito que esse foi um filme feito para ser tocante. na verdade ele representou exatamente o que veio fazer: mostrar as diferenças sociais e como elas eram justificadas pelas pessoas que viviam naquela época. Talvez você tenha essa impressão porque para nós, nascidos no Brasil, o tipo de situação retratada em The Help seja um tanto quanto chocante. No meu caso especifico, acho tudo aquilo inadmissível. Você tem que lembrar, no entanto,que esse filme é estadunidense e feito para esse público, e não acredito que ele tenha o objetivo de chocar ninguém e nem causar pena, por que os americanos não sentem pena desse tipo de tratamento. Acredito que muitos gostariam que as coisas ainda fossem assim por lá (e em alguns lugares são). The Help quis mostrar como as coisas funcionavam socialmente naquela época e como as mulheres negras lidavam com isso. Por fim, The help poderia dizer muito mais, sobre a sociedade completa e não só sobre o povo negro, como aquela obrigatoriedade de ter filhos mesmo sem talento para criá-los, o preconceito contra mulheres liberadas e como tudo era tão difícil para TODAS as mulheres, não só as negras.
ResponderExcluirToda opinião é valida...essa visão eu não tive ao assisti-lo!
ResponderExcluirCristian, tive que comentar porque assisti "Histórias Cruzadas" tantas vezes e, após ler sua crítica hoje, já quero vê-lo novamente sob seu ponto de vista crítico. Apesar de ter gostado da opinião da Cher, e também do seu olhar crítico e "cinefilado", achei que a trama poderia ter explorado mais essa questão levantada por você em relação à empatia entre público e personagens. À exceção da garota escritora e das duas empregadas protagonistas, não percebi um enredo que justificasse a continuação da trama, a não ser pela expectativa criada, pelo ou menos em mim, que houvesse uma "vingança" em relação à patroa (da torta de chocolate) ou da expectativa pela publicação do tal livro. Enfim, gostei do filme, certamente não merecei o Oscar (apesar de achar que a Viola merecia, neste caso, o Oscar, ao invés da Meryll. Parabéns, seu blog é muito legal, vou indicar aos meus convivas, faz a gente pensar mais e comer menos durante os filmes (pelo ou menos vai ser assim quando eu for (re)ver "Histórias Cruzadas".
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