terça-feira, 3 de julho de 2012

Os Vingadores (The Avengers, 2012)




O que peca em filmes como O Homem de Ferro, Thor e Capitão América, talvez seja a falta de aprofundamento moral, psicológico intelectual no tratamento da trama em si. Não que toda história necessariamente deva ter um cunho moral; muitas vezes, a inserção de tais elementos na narrativa acaba prejudicando ou comprometendo o andamento da obra, tornando-a pedante e piegas. Entretanto, filmes como Cavaleiro das Trevas, X-Men, Watchman e Hulk (de Ang Lee) são bastante promissores nesse quesito, não deixando que a história e a diversão sejam desvirtuadas em detrimento da moral a ser passada, trabalhando de forma profunda e visceral as características e antecedentes dos personagens. Isso faz com que entendamos melhor seus propósitos, soframos com seus dramas e, porque não, até mesmo compreendamos as motivações dos vilões (e simpatizemos com sua causa, como é o meu caso com o Magneto em X-Men e com Ozymandias, em Watchmen).

O que acontece com os últimos filmes da Marvel que fazem parte da franquia Os Vingadores é que eles acabam sendo filmes de ação/aventura por si só, o que faz com que a história rapidamente se perca em nossa memória semanas ou dias depois de assistirmos. É quase sempre a mesma coisa: alguns vilões inexpressivos com um plano de acabar com o mundo contra alguns heróis que resolvem salvar a todos nós sem que nem eles mesmos entendam ao certo o motivo de estarem fazendo isso. Além disso, os roteiristas são rasos na construção psicológica de seus personagens (excetuando-se aí O Homem de Ferro, onde Robert Downley Jr nos apresenta um memorável Tony Stark, mais por sua excelente atuação do que pelo roteiro em si).

Entretanto, em Os Vingadores, a fórmula "personagens rasos + história rasa" acaba funcionando de uma forma inacreditavelmente boa. O filme é tão divertido que pouco nos lixamos para a verossimilhança das tramas que estão sendo traçadas na tela. E se, por um lado, temos um plano em que o super vilão Loki quer se aproveitar de um tipo de energia emitida por uma espécie de cubo (pra que mesmo ele quer isso???), por outro temos um grupo de super-heróis, reunidos a toque de caixa, com egos não menores que suas habilidades, o que faz com que eles sejam totalmente responsáveis por toda a diversão do filme.

É delicioso ver, por exemplo, Tony Stark provocando Bruce Banner na expectativa de irritá-lo para despertar nele o monstro verde que o habita. Ou ver a Viúva Negra, em uma sessão de tortura na qual é vítima, tentando resolver pelo telefone assuntos cotidianos, como se tirasse de letra qualquer situação que ocorresse em sua vida. Ou mesmo o monstro Hulk, em seus acessos de raiva, pouco se importando em conter-se até mesmo com seus aliados.

E é justamente o Hulk que rouba as melhores partes do filme nos momentos em que ele aparece. A constituição de um Bruce Banner mais sociável, diferentemente do que ocorreu nos dois recentes filmes anteriores, onde ele era apresentado como um sujeito introspectivo, é bastante correta para o atual universo Os Vingadores, já que a química estabelecida pelos personagens de forma geral, exige mais dele nesse sentido.

E, para encerrar esta análise, eu não poderia deixar de comentar a cena da batalha nas ruas da cidade que, para mim, atingiu o primor das batalhas estabelecidas pelos desenhos da Liga da Justiça (que torço com todas as minhas forças para que a Warner resolva filmar utilizando a apresentação gradual dos personagens, como feito em Os Vingadores, com um filme independente para cada). A cena em questão é complexa, com diversas coisas acontecendo ao mesmo tempo, entretanto, é tão bem dirigida que soa como música clássica, com tudo funcionando perfeitamente para que, ao final, terminemos com aquele gostinho de que o filme poderia ser duas vezes mais longo que ainda sairíamos do cinema querendo que fosse maior.
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